quinta-feira, 31 de julho de 2008

Início, meio e falta de fim

Eu sempre quis ter um blog. Mas sempre me perguntava o que escreveria. Fiz esse no impulso e ainda não sei ao certo até se devo tê-lo. Mas meu companheiro de aventuras e minha Quinha amiga disseram pra não me desfazer dele. O das aventuras disse pra eu escrever sobre as experiências que eu tenho, principalmente os casos que vejo e estudo lá no curso de doido que eu faço, no estágio que sustento e/ou na pesquisa acadêmica que inicio(continuo). Gostei da idéia porque é basicamente sobre isso que (des)conhecidos ou amigos falam comigo. Porque a grande maioria já me acha A psicóloga só porque me dei à coisa. Não vou mentir e dizer que não acho legal porque eu acho. parece que suas opiniões passam a ser mais respeitadas porque você teve algum estudo do assunto, é claro. Mas admito que é legal também ouvir, depois de uma longa conversa sobre Freud (adoooro o.O) ou sobre o que inha deve fazer depois que terminou com inho, que tenho 'jeito pro babado' (como se psicologia fosse só clínica ou psicanálise). Salvo as devidas críticas, é interessante achar que to indo pelo caminho certo.

Enfin (lê-se ãnfãn), depois de pouco mais de seis meses indo, ao menos uma vez por semana lá na enfermaria de saúde mental de um certo hospital público, afim de cumprir com meus deveres de estagiária extra-curricular, tenho um bom 'estoque' de situações engraçadas, trágicas, horríveis, tristes, inspiradoras e, acima de tudo, educativas (no sentido mais amplo da palavra), armazenadas aqui nas imedições de meu hipocampo.

Uma que eu gosto bastante é o caso de uma senhora de meia idade, inteligentíssima, aposentada do estado, professora por vocação. Em um de seus ápices da esquizofrenia, foi ao banco retirar seu benefício e, por algum motivo o saque nao foi autorizado. A (miserável) doença e suas características persecutórias a fez pensar que havia um complô contra a mesma e que seu dinheiro só seria liberado numa agência em São Paulo. Isso mesmo. São Paulo. E o que ela fez? Sem nem pestanejar, pegou um dinheiro que tinha guardado, algumas roupas e se abalou de casa pro TIP. De lá, tomou um ônibus pra maior cidade da América Latina, parou na primeira agência que viu, retinou o dinheiro, foi até uma pousada, se instalou, cismou com a pousada, quis voltar pra casa e foi pro aeroporto. Chegando, só tinha vôo pra a veneza aqui no dia seguinte. Ligou pra família, que a essa altura do campeonato já tava, literalmente, arrancando os cabelos de preocupação, dormiu na enfermaria do aeroporto e, no dia seguinte, retornou feliz da vida. Agora imagine ela mesma contando essa história pra uma sala com 5 pessoas de jaleco, desconhecidas, expirando 'todo saber'. Coragem? Desinibição? Pra minha é segurança. Ela tinha todas as convicções do mundo de que isso era normal e de que ela não tinha nenhuma doença. Ainda ouvi muito mais coisa, muitos outros episódios acontecidos, mas o mais interessante, o mais tocante foi uma de suas frases no meio de seu discurso, que nunca me saiu da cabeça. Ela disse mais ou menos assim: Ninguém me entende nessa vida. Eu só quero viver em paz, no meu mundinho que criei, sem ter ninguém me criticando ou querendo me mudar. Eu não mexo com ninguém, eu não abuso ninguém. Eu só quero viver em paz e ser feliz.

Obviamente ela não falou com essas palavras, mas a parte do 'mundinho que eu criei' pegou em mim. Parecia que ela sabia da doença ao mesmo que a negava com todas as forças.
O paradoxo (e já deve ter se percebido que eu adoro um), mesmo que aparente, já que muitos podem pensar que a frase foi devido ao inconsciente dela que sabe de sua doença e bla bla bla, ficou vindo em minha cabeça durante uns dias e vez ou outra eu lembro disso. Soube hoje que ela tá bem melhor. Não viaja mais sem avisar e já tá aceitando sua doença. Ela continua paciente no ambulatório do mesmo hospital público.

Até que ponto dá pra intereferir, como profissional ou não, na vida de uma pessoa?
Querendo ou não, sofremos e fazemos múltiplas influências todos os dias, mas tudo, suportamente, tem um limite, né? Qual limite? A Senhora melhorou mesmo? O fato dela não ter mais crises legitima sua melhora?

Sei não. Tenho ainda, pelo menos, mais dois anos e meio pra descobrir antes de sair tentando 'resolver' pessoas.

E é?

É.
mais uma coisa pra se viciar.
mais um site pra ficar atualizando o tempo inteiro.
tenho nada pra fazer mesmo o.O

objetivo?
sei lá.

coisas interessantes?
não muito.

escrever.
escrever.
escrever.
coisas sem sentido que fazem o maior sentido.